MINHA HISTÓRIA CIRCENSE: ENCONTROS E DESENCONTROS

Desde minha infância fui fascinado pelos desafios do homem as leis físicas e naturais. Todas as proezas onde uma pessoa, realmente ou aparentemente, rompia com a leis da vida mortal me deixava extremamente excitado. Talvez, seja por isso que resolvi praticar Ginástica Artística por tantos anos e também me emocionava tanto os espetáculos circenses.

No entanto, minha vida nunca tinha sido alvo da cultura circense, qualidade que veio a mudar drasticamente a partir de 1999 com a ajuda de alguns amigo da UNICAMP, particularmente de Rafael Madureira e João Simão (Jonny).

Monociclos
Monociclos

Com estas pessoas comecei a praticar Perna de Pau e aos poucos fui me interessando pelo mundo do circo e ampliando minha quase inexistente cultura respeito a esta parte do mundo artístico. Paulatinamente deixei de ser público e pasei a ser protagonista, ou melhor, artísta.

Depois de ver muitos vídeos, ler bastante  e estudar um pouco, percebi que realmente poderia desempenhar algo relacionado com o mundo do circo e que, talvez, esta fosse uma alternativa ou outra oportunidade, de seguir com minha grande ilusão de vida: ser uma artísta, um acrobata. Sempre fui um sonhador e neste momento voltei a ser mais que nunca.  Devo salientar que foi a “acrobacia” que serviu de elo de ligação entre meus saberes da ginástica com os do circo.  Por certo, o Circo despertou em mim novamente o sentimento de desafio e aprendizagem que vivi por muito tempo na ginástica (e no esporte em geral).

Assim, igual que em outras oportunidades, comecei a dedicar-me muito, e graças a minha facilidade para realizar tarefas complexas com o corpo (acrobacias) aprendi rapidamente a andar e realizar alguns truques com a Perna de Pau, ações que logo combinei com minha base acrobática e que dava inicio a minha formação circense.

Neste momento de minha vida eu e os amigos já citados demos inicio ao grupo Echasse, nome que significa Perna de Pau em francês, que em poucos meses realizou várias apresentaçoes pelos interior de São Paulo (Brasil) e logo acompanhou o Grupo Ginástico Unicamp (GGU www.ggu.com.br) por uma turnê pela Argentina e Chile. No ano seguinte, tive que deixar o Echasse para viajar a Espanha para desenvolver minha pesquisa de doutorado.

Quando cheguei na Espanha conheci um grande malabarista (Xavier de Blas www.xdeblas.com) e aos poucos começamos a treinar juntos no INEFC Lleida (www.inefc.es). Não demorou muito e alguns meses depois eu e Xavi, que também havia deixado uma companhia de circo de Barcelona, nos apresentamos a um casting de uma companhia chamada La Cremallera Teatre que acabava de ser fundada en Arbeca (Lleida – Espanha) fruto da divisão de uma companhia anterior.

Deste modo, a partir de maio de 2000, trabalhei profissionalmente na La Cremallera Teatre e também para muitas outras companhias espanholas como free-lance com uma média de 60 espetáculos anuais, evidentemente sem deixar de desenvolver minhas atividades acadêmicas de pesquisa e ensino. Não posso deixar de mencionar que neste período conheci um número muito grande de artistas, de todas as especialidades circenses, com os quais pude aprender muitas coisas (malabares, mágica, mais acorbacia, etc.). Prefiro não citar nomes agora, pois ao esquecer de alguém poderia ser injusto, mas coloco isso como uma grande desafio para o futuro, pois sempre acreditei que devemos nomear, sempre que possível, nossos amigos, nossas referências. Tive ainda a oportunidade de trabalhar em dezenas de cidades espanholas, algumas em Portugal e na França, com destaque para um espetáculo no famoso Carnaval de Nice (França – 2005).

Máscara espetáculo Zaragatus - La Cremallera Teatre 2002
Máscara espetáculo Zaragatus – La Cremallera Teatre 2002

Paralelamente aos espetáculos, desde 2000 desenvolvi em parceira com outros pedagogos e estudiosos do circo, muitos cursos das mais distintas modalidades circenses, principalmente de malabares, perna de pau, rola-rola, tecido, acrobacias e segurança  em diferentes paises (Brasil, Perú, Chile, Colômbia, Portugal, Ski Lanka, Espanha, França, Argentina, Dinamarca) e para diferentes públicos (pedagogos, artístas, arte educadores e público em geral). Alguns dos documentos que foram preparados para estes cursos estão disponíveis na sessão publicações e podem ser baixados gratuitamente.

Uma de minhas principais aventuras como professor e pedagogo dos saberes circenses, particularmente em acrobacias, foi na Escola de Circo Rogeli Rivel (Escola de Circo de Barcelona) onde trabalhei nos cursos regulares e também nos intensivos de 2001 a 2005, ao lado de grandes mestres, como por exemplo o cubano Vicente Espinoza.

Escola Circo Rogelio Rivel - Barcelona - Espanha 2003
Escola Circo Rogelio Rivel – Barcelona – Espanha 2003

A partir de 2003 comecei a colaborar voluntariamente com a ONG Palhaços Sem Fronteiras, para quem realizei várias apresentações na Espanha e uma expedição no Sri Lanka com o suporte de Médicos Sem Fronteiras em 2004. Sem dúvia uma das maiores experiências de minha vida, que contarei mais em breve.

No final de 2005 regressei ao Brasil e desde então trabalho na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mais precisamente na Faculdade de Educação Fisica, onde desempenho atividades de ensino (graduação e pós-graduação), pesquisa e extensão nas áreas da ginástica e do circo. Nesta instituição temos vários projetos de pesquisa em andamento coordenados pelo Grupo de Pesquisa das Artes Circenses (CIRCUS http://www.unicamp.br/fef/grupos/circus/index.htm), diversos projetos de extensão abertos a comunidade (http://www.fef.unicamp.br/re-ic/), além de um ambicioso projeto de levar circo para escolas de educação infantil chamado Circo na Escola. Temos ainda publicado uma série de artigos e livros sobre a temética circo que podem ser consultados aqui: http://www.unicamp.br/fef/grupos/circus/publicacoes.htm.

Atualmente venho apresentando individualmente (ou em parcerias com algumas companhias como a Corpo Mágico), pois é uma forma que aprendi a trabalhar que melhor funciona na atualidade por não depender de outros e permitir certa liberdade de improviso artístico. Com isso criei o personagem Mark Mark Show com o qual venho trabalhando alguns números (espetáculos de pequeno formato para festivais e eventos), entre eles:

– Protp (2003-2009), espetáculo no qual se misturam as técnicas da acrobacia e da perna-de-pau, e que foi apresentado em 22 ocasiões em diversos países e cidades brasileiras.

Meu pequeno Circo (2005-atualidade) espetáculo de diabolô, acrobacias e um pouco de diversão cômica/mágica, para todos os públicos, apresentado mais de 90 vezes também em diversos países e cidades brasileiras.

Escola de Circo Rogelio Rivel, Barcelona, 2004
Escola de Circo Rogelio Rivel, Barcelona, 2004
Escola de Circo La Tarumba 09 - Lima Perú
Escola de Circo La Tarumba 09 – Lima Perú

Outra atividade que tenho enorme prazer em realizar são oficinas e cursos de formação em pedagogia das atividades circenses. Nestes encontros com todo tipo de público tenho aprendido muito e visto como o circo vem penetrando diferentes lugares e como ele se manifesta em diferentes regiões e países. Nestes últimos 10 anos foram centenas de oficinas e cursos, com consequencias diversas, como a parceria com a Escola Pernambucana de Circo durante 3 oportunidades que culminou no suporte técnico para o espetáculo Ilusão (2009-2010).

Continua…


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